domingo, 2 de dezembro de 2012

Vídeo-aula 17: Transformações sociais, currículo e cultura



Disciplina: Educação Comunitária
Vídeo-aula 17: Transformações sociais, currículo e cultura. Por Marcos Neira.
Visualizado em: 01/12/2012

A aula partiu da seguinte indagação?

Como a sociedade veio se modificando nos últimos tempos?

Sendo assim apontado algumas transformações:
Globalização: Que apesar de ter iniciado entre os Séc. XVI e XVII,  foi apresentado nesta video mais focado nos últimos 50 anos.
Neste sentido Marcos enfatizou as mudanças tidas na nossa alimentação, como por exemplo, os restaurantes “self service”, os quais antigamente era “A La Carte” ou até mesmo “Prato Feito”, e hoje em dia em uma mesma refeição podemos ter acesso á vários tipos de alimentos, peculiar de diferentes regiões do Mundo.
A indústria cultural, também é outra que oportuniza o acesso a diferentes formas de cultura, por exemplo, os rádios que tocam musicas de vários países de vários idiomas. O tempo todo somos alcançado por criações feitas em outro lugar no Mundo.

A globalização também repercute na escola, afinal, ela envolve toda a sociedade e a escola é algo inerentes de toda essa teia de relações, assim á partir da contextualização da democracia, temos a inclusão de vários públicos na escola e na sociedade, os quais eram negados esse acesso no passado;
A Sociedade então passa a ser multicultural, isso tanto na escola, como na família.
Com todas essas transformações a escola, passa a ter uma função social, uma circulação na esfera pública de maneira qualificada, não mais um instrumento de "adaptações" forçada do aluno na escola.
Neste sentido começasse a refletir o currículo escolar, como forma de responder a essas demandas e necessidades, considerando aqui, conforme pontuações de diversos autores que “Currículo: é toda experiência proposta pela escola, ou a partir dela”, ou seja, “Todo currículo é uma prática social e deixa marca”.

Assim, o ministrante da aula, abordou ainda um pouco sobre as teorias curriculares:
* Teorias Tradicionais; objetivam recortar um pedaço da cultura que acham válida, importante, interessante, erudita, por parte de alguns grupos bem restritos e fazer com isso chegue ao conhecimento dos alunos. Uma marca dessa teoria é que elas não colocam em questão o valor desses conhecimentos, eles precisam ser apreendidos pelos alunos. Na década de 60 essa forma de entender o currículo foi altamente questionada pelos autores, que diziam que essa forma de organizar o currículo, vinha fortalecer a separação da sociedade em classes sociais. Esses autores ficaram conhecidos como critico- produtivistas.

* Teorias Criticas: Teoria que colocavam em cheque, questionavam os conteúdos e a forma defendida pelas Teorias Tradicionais, dando enfoque principalmente a não separação da sociedade em classes (Anos 60 e 80);


* Teoria pós-critica o entendimento de que o currículo não está só empregado á partir dos conceitos de classe (a qual também incorporaram), mas também de etnia, de gênero, de local geográfico, de lugar de moradia, de faixa etária.


Assim é salientado a importância de olharmos criticamente para todo o material escolhido para trabalhar com os alunos e a sociedade escolar, indagando:
De que local vem?
O que ele quer dizer?
A quem está referindo?
Como ele posiciona as pessoas á respeito do tema?

Abordando sobre cultura, vimos que a mesma traz os seguintes significados de acordo com cada região:
* Cultura, cultivar (Grécia Antiga);
* Estado de Espírito (França Séc. XVIII);
* Associada à razão e civilização (Iluminismo), separando os povos á partir da cultura;
* Fator de identidade nacional (Alemanha, Sé XIX);
* Modo de produção de classe (Inglaterra, séc. XIX).

Atualmente temos uma mistura dessas diversas linhas.

Cultura, no olhar da Antropologia.
* Evolucionista (Tylor);
* Relativista (Boas);
* Funcionalista (Malinowiski), (Não promove a interação entre os diferentes);
* Sistêmica (Durkheim);
* Interpretativa (Geertz) (cada grupo social atribui significados específicos as coisas do Mundo e logo cada grupo social está preso a isso).

Impulsionada e alimentada pela referida aula, parti para uma troca, um diálogo com uma amiga estudante de Ciências Sociais, Mariana Correa, a qual se identifica muito com Antropologia a mesma contribui com os seguintes aprofundamentos:

Evolucionismo Cultural
- Apropria-se das ideias evolucionistas de Darwin (“A Origem das Espécies”)
A humanidade é uma só (universalidade), a percorrer um único caminho evolutivo. As sociedades não são exatamente iguais, são diferentes; mas a diferença é de Grau (todas estão em diferentes estágios de evolução cultural).
- Cultura no singular. (Cultura e Civilização – Tylor.) - A questão da história (positiva) está presente.
- Comparação entre os estágios das diferentes sociedades (Selvagem – Barbárie – Civilização; ordem crescente).
- Princípio etnocêntrico: “elas são o que nós já fomos”.
- O “selvagem”, o “primitivo” como um documento humano - daí a necessidade de se comparar essas sociedades; comparar como num exercício de anatomia (“dissecar” as sociedades “selvagens”, “primitivas”, suas partes e classificar essas partes para identificar seus estágios evolutivos).
Objeto de estudo dos evolucionistas/antropólogos: a Cultura.

Relativismo (ANTROPOLOGIA CULTURAL NORTE AMERICANA – Franz Boas)
- Os indivíduos são dotados de cultura.
Cultura: elemento central do ser humano. Forma como enxergamos o mundo.
1) A ênfase está muito mais no cultural do que no social. O cultural é percebido através dos caracteres distintos de cada sociedade e que se apresentam no comportamento individual de seus membros bem como nas suas produções específicas (religiosas, artísticas, artesanais.)
2) Abordagem empirista, que trata o tempo de forma diacrônica (tempo em movimento). – reconhece a problemática da mudança.
3) Particularismo Histórico: pensar as mudanças da história de uma cultura dentro dela mesma. – Nossas respostas se dão muito mais no âmbito da cultura; estas não são determinadas pela natureza. Relação cultural com o mundo.
4) Relativismo Cultural: A cultura é pensada por ela mesma. As coisas são relativas a elas mesmas, relativas ao cultural.
- Relativismo de fundo metodológico: cada indivíduo vê o mundo da perspectiva da cultura onde viveu. Apontada, portanto, a necessidade de se relativizar as próprias visões de mundo (evitar o etnocentrismo).
5) A cultura é um sistema independente da natureza – superação das limitações orgânicas. – a cultura possibilita que a natureza não nos determine (pode influenciar, mas não determina).
- Comparação deveria se limitar a um território restrito e bem definido, onde os estudos das culturas deveriam ser tomados individualmente e em regiões culturais delimitadas.  – critica o método comparativo evolucionista

 Funcionalismo ( Bronislaw Malinowiski) – Tradição Britânica
- Perspectiva empírica; quando o antropólogo vai a campo ele está produzindo ciência (legitimar campo de atuação através do método). O mundo é uma realidade em si.
- Não problematiza a mudança. Explicar o funcionalismo da cultura num momento dado.
- Conceito de cultura apoiado no conceito de natureza humana, sendo este caracterizado por necessidades biológicas a serem satisfeitas.
1. A cultura é essencialmente uma aparelhagem instrumental pela qual o homem é colocado numa posição melhor para lidar com os problemas específicos concretos que se lhe deparam em seu ambiente, no curso da satisfação de suas necessidades.
2. É um sistema de objetos, atividades e atitudes, no qual parte existe como meio para um  fim.
3. É uma integral na qual os vários elementos são interdependentes.
4.Essas atividades e objetos organizados em torno de tarefas importantes e vitais, em instituições tais como a família, o clã, a comunidade local, a tribo e as equipes organizadas de cooperação econômica, política, legal e atividade educacional.
5. Do ponto de vista dinâmico a cultura pode ser analisada numa série de aspectos tais como: educação, controle social, economia, sistemas de conhecimento, crença e moralidade e também modos de expressão criadora e artística.
- Morfologia social: sociedade funciona através de partes interconectadas que contribuem para o bom funcionamento do todo.  
- Estudar uma sociedade que exista de maneira concreta e real. Não pensa nas subjetividades. 


Durkheim e a Escola de Sociologia Francesa
-  A Escola Francesa dará o quadro teórico de referência, os conceitos e os modelos que permitirão a afirmação da autonomia do social frente a explicação histórica (Evolucionismo), geográfica (Difusionismo), biológica (Funcionalismo), e psicologia (psicologia clássica e psicanálise).
- Na concepção durkheiniana, a Antropologia estava dentro da Sociologia.
- Influências Positivistas: construir uma ciência do pensamento, da moral, das relações sociais, seguindo os mesmos parâmetros das ciências naturais.
- A sociedade ultrapassa os indivíduos, logo não pode ser explicada apenas com referência a eles; os indivíduos são constituídos por ela. Um homem não social não seria um homem
.- Sociedade como uma realidade sua generis, portanto, só pode ser explicada pelos Fatos Sociais.
Fato Social: sociedade como “Coisa”, algo exterior ao indivíduo. Os fatos sociais se expressam por instituições ou grupos.
1) Maneiras de agir, pensar, e de sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora das consciências individuais;
2) Possuem uma capacidade de coerção sobre os indivíduos;
3) São ao mesmo tempo gerais numa dada sociedade  e independentes de suas expressões individuais.
- O limite do conhecimento é empírico, é aquilo que se pode observar. Espaço de movimento, ação é muito estreito; não há como subverter a ordem, pois ela se sobrepõe ao indivíduo.
- A coerção são os comportamentos ditados pela sociedade, a qual o indivíduo acata por não ter margem para escolhas (nem sempre perceptíveis; naturalização).
Divisão do Trabalho Social: nossas relações estão nisso fundamentadas. Necessidade de uma organização social exige de nós uma sociabilidade (é uma lei da natureza e também uma regra moral de conduta – se põe a nós como um dever). “Aprender o seu papel é aperfeiçoar-se e cumprir sua função”. Saber sua função - delimitada pela sociedade, e não pelo indivíduo.

Interpretativa (Clifford Geertz)
- Clifford James Geertz (1926-2006) - Antropólogo estadunidense se destacou pela análise da prática simbólica no fato antropológico, foi por três décadas o antropólogo mais influente dos Estados Unidos.
-Estruturas: matéria de que é feita a Antropologia Cultural e cuja ocupação principal é determinar a razão pela qual este ou aquele povo faz aquilo que faz.
- Qualidade experimental da ciência social interpretativa: “Abandonar a tentativa de explicar fenômenos sociais através de uma metodologia que os tece em redes gigantescas de causas e efeitos, e, em vez disso, tentar explica-los colocando- os em estruturas locais de saber, é trocar uma série de dificuldades bem mapeadas, por outra de dificuldades quase desconhecidas”
- “série de interpretações reais de alguma coisa, transformando em antropologia formulações sobre aquilo que considero as implicações mais gerais destas interpretações; e um ciclo recorrente de termos- símbolo, significado, concepção, forma, texto (...) cultura”
- desenvolver a habilidade de analisar seus modos de expressão que se configuram no chamado sistema simbólico.

Assim chegou-se então ao conceito de Estudos Culturais
“Estudos Culturais: cultura enquanto campo de lutas para validação de significados. A incorporação de uma forma de Mundo que achamos interessante. Mas essa forma pode incluir algumas formas de distorção e manipulação.”

Cultura, o olhar dos Estudos Culturais:
* Campo de lutas (Hall);
* Incorporação;
* Distorção;
* Resistência;
* Negociação (Resignificação e incorporados pelo outro grupo).

Entrando um pouco na subjetividade do meu ser, gostei muito desta vídeo aula, uma vez que conhecer a intencionalidade e até mesmo o “campo de luta”e de construção intelectual que permeiam as linhas curriculares facilita o entendimento das posturas profissionais adotadas pelos professores, o que muitas vezes pode se dar inclusive no sentido inconsciente da atuação.
Percebe-se ainda a importância da mistura, na inclusão e da abertura para novas formas de significação e significados as questões construídas e vividas, afinal somos sujeitos do processo.

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